A obesidade pode parecer fácil de explicar. Se uma pessoa consome mais calorias do que precisa, ganha peso. Mas a explicação real não é tão simples assim, porque vai muito além do que apenas o peso da pessoa.
A obesidade é uma doença crônica complexa e perder peso não é apenas uma questão de comer menos e fazer mais atividades físicas. Na verdade, a obesidade pode ser influenciada por genética, fisiologia, meio ambiente, trabalho, medicamentos e educação, além da saúde mental.
Entender esses fatores é fundamental, pois a obesidade é associada a outras doenças, incluindo diabetes tipo 2, complicações cardiovasculares e certos tipos de câncer. Sem mencionar o estigma e o preconceito que milhões de pessoas com obesidade sofrem todos os dias.
Com o tratamento ideal, as pessoas com obesidade podem alcançar uma perda de peso sustentada que realmente faz a diferença para sua saúde.
Obesidade não é uma escolha de vida
A obesidade é influenciada por muitos fatores que acontecem tanto dentro quanto fora do corpo. Uma pessoa pode nascer com uma tendência a engordar, assim como alguém nasce com uma cor de olho particular.
Há também o aspecto fisiológico. Quando uma pessoa come, hormônios do estômago e intestino são secretados e chegam ao cérebro, onde ocorre o controle do apetite reduzindo a fome e aumentando a saciedade. Isso controla a ingestão alimentar de uma pessoa com peso adequado.
Durante a perda de peso, os hormônios se alteram na tentativa de recuperar o peso perdido. Como resultado, estudos mostram que apenas cerca de um terço das pessoas mantêm o novo peso com sucesso.
Muitos aspectos do bem-estar geral, ambiente e estilo de vida de uma pessoa podem causar ganho de peso. Onde uma pessoa vive e a cultura que a rodeia também podem influenciar o risco de desenvolvimento da obesidade.
Ou seja, ainda que muitas pessoas com obesidade acreditem que deveriam ser capazes de gerenciar seu peso por conta própria, não é tão fácil assim.
O sobrepeso e a obesidade são definidos como acúmulo anormal ou excessivo de gordura que apresenta risco à saúde. Um índice de massa corporal (IMC) acima de 25 é considerado sobrepeso e acima de 30 é obeso. A questão cresceu para proporções epidêmicas, com mais de 4 milhões de pessoas morrendo a cada ano como resultado de sobrepeso ou obesidade em 2017, de acordo com a carga global de doenças.
As taxas de sobrepeso e obesidade continuam a crescer em adultos e crianças. De 1975 a 2016, a prevalência de crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade de 5 a 19 anos aumentou mais de quatro vezes, passando de 4% para 18% globalmente.
O Brasil está entre os países com maiores índices de obesidade no mundo. Estamos entre os 11 países onde vivem a metade das mulheres com obesidade e entre os nove que abrigam metade dos homens com obesidade.
Obesidade não é o que aparece no espelho ou se mede na balança
O tratamento da obesidade precisa ser de longa duração. Para além do controle, é preciso evitar outras complicações que aparecem com o tempo e resultam em um menor expectativa de vida. Nas crianças e adolescentes, o excesso de peso costuma causar principalmente doenças do coração, Diabetes Mellitus tipo 2 e problemas psicológicos. Quem tem obesidade na infância tem muito mais chance de se tornar um adulto com obesidade.
Dados Nacionais
Adultos
18,9% da população acima de 18 anos das capitais brasileiras tem obesidade
Mais de 100 milhões de pessoas estão acima do peso.
O percentual de pessoas com obesidade cresceu 60,2% no Brasil nos últimos 12 anos
74% dos óbitos no Brasil acontecem por doenças associadas à obesidade
Crianças e adolescentes
De cada três crianças e adolescentes no Brasil, uma está acima do peso.
Quase 11% dos brasileiros de 5 a 19 anos têm obesidade e 17,2% têm sobrepeso.
A obesidade entre crianças de 5 a 9 anos no Brasil cresceu mais de quatro vezes desde 1989.
Dados Internacionais
Adultos
A obesidade mundial quase triplicou desde 1975.
Segundo a OMS, mais de 1,9 bilhão de pessoas no mundo apresentam excesso de peso. Destas, mais de 650 milhões têm obesidade.
Crianças e adolescentes
A proporção de crianças com obesidade no mundo dobrou desde o ano 2000.
Mais de 107 milhões de crianças no mundo vivem hoje com obesidade.
O sobrepeso ou a obesidade atinge mais de 340 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 19 anos no mundo.
84% das crianças com obesidade no mundo também terão obesidade na idade adulta.
Como chegamos até aqui? É preciso olhar para o mundo em que vivemos
A obesidade não é simplesmente uma consequência da falta de força de vontade. Por causa de uma série de fatores (hormonal, inflamatório, medicamentoso, genético), pessoas com obesidade não costumam ficar satisfeitas com a mesma quantidade de comida que as pessoas de peso considerado adequado. Se elas emagrecem, o cérebro entende que o corpo precisa poupar energia, o que acaba ajudando a ganhar peso de novo.
A ciência também mostra que, nos últimos vinte anos, o número de crianças e adolescentes com obesidade e sobrepeso quase dobrou no mundo. Se essa tendência continuar, até 2022 poderemos ter mais casos de obesidade infantil do que crianças com baixo peso corporal.
O aumento da obesidade infantil
Número proporcional de crianças e adolescentes de 5 a 19 anos com obesidade ou sobrepeso no mundo:
Entre 05 e 09 anos
5,5%
_edited.png)
2000
_edited.png)
2019
13,2%
Entre 10 e 19 anos
_edited.png)
2000
10,3%
_edited.png)
2019
9,53%
5,5%
Por que isso acontece?
Em nossos corpos, a obesidade aparece quando a energia ingerida com os alimentos supera muito a quantidade de energia gasta nas atividades diárias. Outros fatores também interferem, como a genética, a situação socioeconômica e o ambiente em que vivemos.
É fácil perceber isso hoje observando-se as mudanças causadas pela tecnologia no estilo de vida dos mais jovens. As atividades e brincadeiras ao ar livre, por exemplo, perderam espaço para telas e jogos eletrônicos. Os hábitos alimentares também mudaram. Hoje, consumimos mais alimentos ultraprocessados/processados ou fast-food, que ficaram mais acessíveis. Por isso, "muitas vezes" crianças e adolescentes consomem menos alimentos saudáveis.47
Para compreender a obesidade infantil é preciso lembrar de suas diversas causas:
Genética: Pessoas da mesma família muitas vezes convivem com excesso de peso, mesmo que não vivam juntas.
Alimentação: Comidas processadas e industrializadas costumam contribuir para o ganho de peso, pois possuem muitas calorias e gorduras ruins em sua composição.
Estilo de vida: As crianças e adolescentes de hoje dedicam menos tempo a exercícios físicos e mais tempo aos eletrônicos, o que as deixa mais sedentárias.
Medicamentos: Algumas medicações como remédios usados no tratamento de depressão, diabetes e corticoides
(recomendados contra alergias e inflamações) podem levar ao ganho de peso.
Hormônios: Crianças e adolescentes podem ter alterações glandulares que propiciam o ganho de peso (ex: deficiência do hormônio de crescimento, alteração na tireoide).
Fatores psicológicos: O aumento de peso pode estar ligado a questões emocionais e à qualidade de vida como: baixa autoestima, preconceito, depressão, ansiedade, insatisfação com o corpo e dietas não saudáveis.
Complicações neurológicas: A obesidade também pode ser causada por lesão ou tumor cerebral, radioterapia e inflamação do hipotálamo (uma parte do cérebro).
A obesidade vem sempre mau acompanhada
O excesso de gordura no corpo pode desencadear ou agravar muitas doenças, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares (hipertensão, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca congestiva e embolia pulmonar), apneia do sono, alguns tipos de câncer, problemas no fígado e de circulação sanguínea.
Em mulheres, a obesidade também aumenta o risco de infertilidade.
_edited.png)
_edited.png)
A obesidade entre mulheres está aumentando a números alarmantes a cada ano.
50
milhões
390
milhões
Adolescentes femininas entre 15 e 19 anos ao redor do mundo têm obesidade
Mulheres a partir de 20 anos têm obesidade em todo o mundo
1em
cada 4
Mulheres no Brasil têm obesidade
Infância e adolescência
Alto risco de:
Diabetes Mellitus tipo 2, Síndrome do ovário policístico, Síndrome metabólica, dislipidemia, estenose hepática não alcóolica, complicações ortopédicas, impacto social e emocional, dentre outros.
_edited.png)
Idade
reprodutiva
Alto risco de:
Doenças crônicas não transmissíveis como Diabetes tipo 2, em idades mais avançadas, complicações maternas e fetais durante a gestação, infertilidade, dentre outros.
Filhos de mães obesas tem maiores chances de desenvolver a mesma condição assim como outras doenças no futuro.
_edited.png)
Meia idade
_edited.png)
Terceira idade
_edited.png)
Tratamento da obesidade sob a ótica de pacientes e profissionais de saúde
Qual é a sua percepção sobre o tratamento da obesidade? A resposta a essa pergunta foi objeto do maior estudo comportamental que investigou o manejo do paciente com obesidade sob a perspectiva deles e dos médicos. Espalhados em 11 países, 14.500 pacientes e 2.800 profissionais de saúde foram ouvidos no estudo ACTION IO (Awareness, Care, and Treatment In Obesity MaNagement – an International Observation).
Os resultados, que você pode conferir a seguir, lançam luz sobre a necessidade de se encarar a obesidade como uma doença séria, cujo tratamento deve ser individualizado e contínuo. Além disso, expõe o estigma pelo qual passa o paciente, retardando a busca por assistência médica.